A parábola do homem rico e do pobre Lázaro em Santo Ambrósio
29 de setembro de 2025, segunda
Jesus contou para os seus discípulos a parábola do homem que tinha muitas riquezas, e de uma pessoa muito pobre, Lázaro (cfr. Lc, 16,19-31). Os dois estavam próximos e ao mesmo tempo distantes. O Senhor quis dizer que a vida eterna ou a condenação eterna iniciam neste mundo e no julgamento após a morte as coisas se darão conforme a vida vivida neste mundo. A seguir veremos nós a interpretação dada por Santo Ambrósio, Bispo de Milão no final do século IV.
A vestimenta de púrpura
A parábola colocou a realidade de uma pessoa com muitas riquezas e outra com a pobreza. A pessoa rica se vestia de púrpura, de modo a ter mundanas delícias. A pessoa se aproveitava destas situações não se importando com a vida das pessoas, sobretudo das pessoas mais necessitadas. Ela estava no deleite das realidades presentes, parecendo que tudo andasse bem1. Mas nesse caso ele só vivia para ele, não se importando com a vida das outras pessoas.A figura do pobre
Lázaro era pobre, buscando sempre ajudas mas estas foram negadas pela pessoa rica. A pessoa que tinha mais condições para ajudar a pessoa pobre ficou indiferente às suas solicitações. Segundo Santo Ambrósio era ele pobre neste mundo, mas era rico diante de Deus2. Ele era pobre em palavra, mas era rico na fé (cfr. Tg 2,5), no amor.A fé de Lázaro
Santo Ambrósio afirmou que a passagem da Sagrada Escritura aludiria a fé de Lázaro e que foi rejeitada da mesa do rico. Suas feridas sem dúvida horrorizaram o desgostoso rico porque em meio aos seus suntuosos banquetes, na companhia de perfumados convivas certamente não tolerava o mau cheiro daquelas feridas, enquanto os cães as lambiam, porque para o rico o odor do ar da própria natureza proporcionava repugnância3.Alheios à condição humana
A parábola colocou insolência e a altivez da pessoa rica traduzida em sinais apropriados, pois ela era de maneira alheia à condição humana, indiferente ao sofrimento do pobre, como se estivesse situado acima da natureza humana, encontrando nas misérias dos pobres, incentivos a seus prazeres, chegando a rir do miserável, insultar o faminto e despojar-se daqueles de quem conviria apiedar-se com amor4.A comida do pão e a evangelização dos pagãos
Certamente Lázaro não teve a graça da comida do pão material. Ele a terá do pão espiritual, a vida eterna com o Senhor Jesus. Santo Ambrósio colocou um ponto importante da evangelização dos povos pagãos, a sua vocação, sendo como que as feridas lambidas pelos cães: “Voltarão ao entardecer, e terão fome como cães”(Sl 58,15). Ou mesmo como o reconhecimento do mistério da cananéia quando o Senhor disse para ela que “Ninguém toma o pão dos filhos e o lança aos cães”(Mt 15,26). A mulher cananéia afirmou que os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos (cfr. Mt 15,27). Estas migalhas são do pão que é o Verbo, e a fé no Verbo, as migalhas como pontos fundamentais da doutrina da fé em Jesus. Por isso Jesus disse para ela que grande era a sua fé (cfr. Mt 15,28)5.Louvor às coisas
Santo Ambrósio louvou as situações de vida do pobre Lázaro, no sentido que aquelas feridas impediram uma dor perpétua como a pessoa que estava na riqueza. As migalhas seriam especiais, pois elas repeliram um sempiterno jejum que seriam após a morte cumulados de eternos alimentos. As migalhas eram as palavras das Escrituras, que dão vida e salvação às pessoas6. Santo Ambrósio colocou a pobreza como sinal de confiança dos pobres em Deus, de libertação para uma vida digna, como as bem-aventuranças tem presentes (cfr. Lc 6, 20).O grande abismo
Entre o rico e o pobre, houve um grande abismo, porque após a morte os méritos ou os sofrimentos não puderam mudar-se de modo que o pobre estava no seio de Abraão, na felicidade e o rico foi colocado no inferno, desejoso de haurir, buscar no patriarca e nele uma brisa refrescante (cfr. Lc 16,22-24)7. O valor da água é importante porque ela é também o refrigério da alma posta entre dores, na qual o profeta Isaias afirmou que brotará água com deleite das fontes da salvação (cfr. Is 12,3). Existe segundo o Bispo de Milão a tortura antes do julgamento porque para o luxurioso carecer de delícias seria uma pena tendo presentes as palavras do Senhor que haverá choro e ranger de dentes, quando as pessoas virem Abraão, Isaac e Jacó e todos os profetas no Reino de Deus (cfr. Lc 16,9)8.Ser mestre
A parábola quer ensinar às pessoas, o valor da partilha, a busca pelo bem, pela paz e o amor entre as pessoas com Deus, para ser mestre em Deus. A situação foi contrária à pessoa rica, quando tinha um tempo para aprender, para viver o amor, mas ela se fechou aos sofrimentos das pessoas. A passagem da Escritura quis colocar pelo ensinamento do Mestre Jesus que o Antigo Testamento era o fundamento da fé, da esperança e do amor, até a sua vinda, sendo desta forma, o cumpridor das Escrituras. O ensinamento fundamental da parábola é a doação das coisas para as pessoas mais necessitadas em vida, doar aos pobres9, os prediletos do Reino dos céus (cfr. Lc 6,20).Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Fonte: CNBB